Ter Tempo.

Essa coisa luxuosa do século XXI



Escrevo enquanto tenho o privilégio de ter tempo para ver os meus filhos brincarem. Juntos. Com tempo. 
Sem correrias. Sem gritarias. Como se tudo parasse. Aqui, neste momento. Uma praia só nossa. Mil e uma pedras preciosas que é preciso apanhar, buracos que é preciso escavar, paus especiais que me fazem transformar numa qualquer coisa (dizem eles - espero que qualquer coisa boa) numa mistura de narizes ranhosos que não páram de pingar. O inverno tem destas coisas. 
Mas mesmo com o frio que se sente, isso não os faz abrandar. Ainda bem. 
Acho que estão felizes. Este tempo ninguém nos tira. 

Tempo.
Sempre fiz parte do grupo de pessoas que quer fazer tudo e estar em todo lado. Queria enganar o tempo e correr mais rápido. Queria enganar o corpo e correr mais rápido. Dava por mim a olhar para uma coisa e a calcular mentalmente cada seguimento, cada movimento. Serei louca? Dava por mim no mesmo caminho a fazer três e quatro e dez coisas de uma vez. 
A minha cabeça era um comboio a alta velocidade, com uma mudança apenas (para a frente!) com ausência de travão. O tempo todo. 
E sabem que mais?
Adorava!
Essa loucura dava-me vida. Dá.

A vida dos dias de hoje assim o exige, nas mais diferentes formas. Uma vida acelerada, desafiante. Onde tudo é para ontem. Com o relógio que não pára. Porque temos filhos (ou não). Porque temos de ter dois ou três trabalhos ao mesmo tempo para colmatar alguma falha. Porque temos alguém doente que depende de nós. Porque...porque tantas coisas...só cada um de nós sabe.

Tempo.
Esta dádiva.
De ter tempo para aquilo que nos dá prazer. 
Seja para folhear umas páginas de um livro que guardamos há anos por falta...de tempo.
Seja para um passeio a pé para estarmos com o silêncio.
Seja para nos desafiarmos nas alturas ou nas profundezas.
Seja para poder ver a cumplicidade de dois irmãos numa praia só nossa.

Não sei por quanto tempo vou ter tempo mas gaita, vou aprender a aproveitá-lo ao máximo.
Sim, porque, às vezes, a cabeça ainda me trai e pareço uma rabanada de vento.

Aproveitemos cada momento. 
O agora daqui a pouco já passou.

Continuemos.
SM





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