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Ter Tempo. Essa coisa luxuosa do século XXI Escrevo enquanto tenho o privilégio de ter tempo para ver os meus filhos brincarem. Juntos. Com tempo.  Sem correrias. Sem gritarias. Como se tudo parasse. Aqui, neste momento. Uma praia só nossa. Mil e uma pedras preciosas que é preciso apanhar, buracos que é preciso escavar, paus especiais que me fazem transformar numa qualquer coisa (dizem eles - espero que qualquer coisa boa) numa mistura de narizes ranhosos que não páram de pingar. O inverno tem destas coisas.  Mas mesmo com o frio que se sente, isso não os faz abrandar. Ainda bem.  Acho que estão felizes. Este tempo ninguém nos tira.  Tempo. Sempre fiz parte do grupo de pessoas que quer fazer tudo e estar em todo lado. Queria enganar o tempo e correr mais rápido. Queria enganar o corpo e correr mais rápido. Dava por mim a olhar para uma coisa e a calcular mentalmente cada seguimento, cada movimento. Serei louca? Dava por mim no mesmo caminho a fazer três e quatro e dez coisas de uma vez

Recomeçar.

Recomeçar. Parem um segundo! Literalmente. Por favor. Contem lá quantas vezes já se queixaram hoje por coisa nenhuma? E eu falo só de hoje. Pensaram?  Muitas, né? Este café hoje está uma porcaria e paguei 5.- por ele. O teu filho manchou-te a tua melhor camisa com as mãos mais gordurosas que possam imaginar (mas porque só te queria dar um abraço). Foram ao supermercado devolver castanhas que estavam completamente podres quando as queriam cozinhar...e muitas outras coisas estupidas. Muitas.  Chato, certo? Mas não é o fim do mundo. Nunca será. O Joao e a Maria viviam lá longe. Num país distante. Não eram ricos, também não eram pobres. Levavam a sua vida honestamente. Tinha cada um a sua casa, a sua vida tranquila. Os seus amigos, os seus livros, as suas plantas, as suas fotos. Recordações de uma vida. Ele, socorrista de ambulancia durante anos em tempos de juventude. Ela, uma vida dedicada à psicologia. Tinham-se um ao outro. Apenas. A vida, essa, já lhes tinha levado outros mais próximo
Deixemo-nos de merdas. Tempo de ser Não gosto de dias como este. Chuvoso, escuro, frio, neve, desagradável. Olho pela janela à procura de uma luz e nada. Felizmente, cá dentro, quentinho. E a melhor companhia.  Sussurram segredos tontos para eu não ouvir mas depois é escuta-los às gargalhadas. E isso aquece. Olho melhor. Afinal, há qualquer coisa lá fora. Um balão. Amarelo. Preso numa árvore.  O Gabriel tinha-o soltado em direcção ao céu. E contra todas as expectativas, neve, chuva, vento, la continua ele. Em frente à minha janela. Vou toma-lo como um bom sinal. Discutíamos no outro dia, numa troca de ideias muito interessante, e o Gabriel perguntou-me do que é que eu gostava muito muito. Mas ele não queria saber qual era a minha comida favorita, a cor de que eu gostava mais...Queria saber o que é que eu gostava muito muito. O que me dava paixão. Perguntando ele exactamente o significado daquela palavra. Rapidamente enumerei algumas coisas que me saíram da boca mas voltei, mais tarde,